Tudo o que é eterno, etéreo, invisível, insondável e
desconhecido arrebata o juízo do homem desde que ele passou a existir como ser
pensante. Desde que ganhou uma alma, seja pela explosão do Big Bang, seja pelas
mãos do Criador. O grande perigo de ter a própria percepção das coisas
comprometidas apenas por aquilo que podemos ver é o de simplesmente deixarmos
de nos preocupar com as experiências. Simplesmente esperar que uma explicação
chegue até nós.
Deus tem se apresentado ao homem através das coisas que foram
criadas, mas nós não somos capazes de ter a simplicidade de reconhecer que em
todas as coisas que podemos pegar e ver, existe uma assinatura biológica e
espiritual. E quando digo espiritual, não estou falando de nada sobrenatural,
mas da essência das coisas, do propósito de todas elas existirem. Fazemos
distinção entre o santo e o profano baseados em uma cultura egoísta e
antropocêntrica imposta pela religião através dos séculos. São inúmeras
gerações de imposição e influência doutrinária, não se pode negar a relevância
de um fato como este. O homem conseguiu precificar seus próprios deuses,
conseguiu construir súditos leais para seus próprios reis, conseguiu povoar
cidades inteiras, conseguiu até mesmo escolher quem é e quem não é filho de
Deus. O homem escreveu sua história com mentira, especulação, irrelevância,
inteligência e ciência contraposta de uma falsa evolução escondida por detrás
dos importantes fatos presentes em sua história. Guerras, tratados, crises,
reinos, impérios, nações, culturas, tudo produto do egoísmo sem fim do homem.
Tudo em nome do nome. Tudo em nome do significado.
O Deus bíblico, que acredito ser na verdade, o mesmo Deus
científico, que também é o mesmo Deus ideológico e que fatalmente também
personifica o Deus prático, assiste o sofrimento humano na busca pelo poder,
pelo ser, pelo ter e pelo saber. Um amigo que conheci, que também foi meu professor,
no ensino fundamental e no ensino médio e meu mestre na faculdade de Direito,
vive indagando-se ‘qual será a origem do sofrimento humano’. Se eu pudesse
respondê-lo, responderia com a sabia e temerosa cautela de dizer que o homem
sofre por tentar explicar tudo o que lhe acontece através de sua própria
inteligência e não tem a sabedoria de concluir que não consegue.
A humanidade caminha para um lugar do qual ela desejará
voltar quando chegar, mas não conseguirá. O fim de todas as coisas, o apocalipse e o apagar da luz chama-se: juízo. Não me refiro ao juízo de Deus, apesar de
acreditar que ele chegará um dia. Me refiro ao juízo de saber significar todas
as coisas sem que haja uma sequer em toda a natureza que fuja da compreensão
humana. Este será o dia da destruição do ser humano essencial, do belo. Tudo se
resumirá a letras e números. Cálculos exatos. Uma fórmula para o amor e outra
para a dor, mudando apenas alguns coeficientes.
Deus estará morto neste dia. O homem estará engodado em um
caminho sem volta pela sua própria lei. E a natureza morrerá junto com o seu
legislador.
Erick Freire
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