Ela veio tirar a minha paz. Ela veio me deixar com a pulga atrás da
orelha e com a cachola em pane. Ela
chegou para me revelar ao mundo e descobrir minha nudez.
Não
se trata de uma pessoa (nem de um sistema operacional) trata-se da obra
cinematográfica homônima de Spike Jonze que assisti na noite de ontem com minha
esposa. E diga-se de passagem, que obra! Pensei que fosse ser engolido por
minhas emoções quando começaram a subir os créditos. Me senti denunciado em
minha imensa falta de relacionamentos físicos. Fique 10 segundos completamente
paralisado quando acabou o filme.
Há
tanto de nós a ser descoberto ainda. Há tantas pessoas para conhecer, tantos
lugares para visitar, tantos aromas para sentir, tantas músicas escondidas por
aí. Tantos abraços necessitando de mais braços. Tantos vinhos, tantas uvas. É
tão cedo para acabarmos com o que é real, tão cedo para vivermos tão sem
esperança. A solidão ainda é tão imatura para receber de nós tamanha confiança.
E sim, temos confiado à ela nossos preciosos dias, nossa força, nossa beleza.
Há tanto do nosso passado esquecido que fomos lançados para um extremo
futuro. Há de se voltar no tempo. Para o café amargo e para a doçura das
conversas. Onde foi parar o chão da vida?
Há
momentos na vida em que algo passa pela lente de nossas câmeras fotográficas e
de repente, uma hesitação toma conta de nós. Não clicamos tal cena. Afastamos o
rosto da câmera e olhamos fixamente para lá buscando consumir todo aquele
momento. Com a certeza de que algo nos possuiu. Dias nos foram
acrescentados. A mágica do físico transcende.
E
hoje pela manhã quando meu filho me olhou e sorriu pra mim, não senti mais
vontade de fotografá-lo, imediatamente tive a certeza de que nunca mais
esqueceria daquele momento. Encontrei minha quintessência.
- Erick Freire, 57 (26) anos.
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