17.8.16

Música: O Gatilho da Alma


(Mark Knopfler, Dire Straits)

As vezes tentamos explicar a conexão que temos com determinada música, álbum, banda ou cantor e não conseguimos perceber que trata-se de muito mais do que apenas um relacionamento físico de ouvinte. Descobrimos então que a conexão existe entre a nossa alma e a mensagem avassaladora de amor e ódio contida em cada nota, em cada frequência, em cada letra.

Ela tem o poder de disparar a maior arma do ser humano contra tudo e todos. Ela tem a capacidade de teletransportar qualquer pessoa a lugares nunca antes visitados com uma riqueza em detalhes impressionante. Mais nítido e sensorial que o melhor déjà vu. Há quem diga que ela serve para nos trazer o equilíbrio entre a tragédia da vida e a vida sem tragédias. O equilíbrio entre o real e a cobiça. Quem nunca tocou airguitar? Quem nunca simulou um microfone debaixo do chuveiro? Quem nunca adotou como verdade absoluta a frase: “Nossa! Essa música está falando sobre mim!”?

Assim como o corpo se embriaga com o álcool e se entorpece com as drogas, a alma se comporta de igual maneira com a música. Algumas tem o avassalador poder de consertar buracos. Outras de fazê-los. O que importa no final é que a música é o gatilho da alma. Se diferente fosse, como seria possível explicar a impressionante conexão entre o músico e seu instrumento? Entre o compositor e a alma doente? Como explicar que a vida fica boa quando ouvimos determinada música? Que as lágrimas caem? Como explicar o inferno astral do passado para o qual somos levados em determinados solos de guitarra? Como explicar quando sentimos a mesma dor todas as vezes na voz de determinado cantor?


(The Endless River, Pink Floyd)

Me recordo de uma história que fala muito sobre a música agindo na alma. Certa vez um amigo, que ouviu uma música no carro enquanto ia para casa, sentiu-se extremamente emocionado. Uma angústia que o invadia sem explicação. Algo que não dá pra saber de onde vem ou como está agindo lá dentro. Quando chegou em casa, estava zapeando os canais da TV, a dita música estava tocando em programa de videoclipes e ele pôde então saber do que se tratava. Quando o encontrei no outro dia, ele me disse: “Cara, eu não entendo absolutamente nada de inglês, mas ouvi uma música no carro ontem que me deixou angustiado... Quando fui ver o clipe, que passou acompanhado da legenda da música em português, vi que ela falava da agonia de um cara que estava no meio de um naufrágio sem esperanças de escapar da morte”. Depois que ele me disse isso, entrei em alguns dias seguidos de reflexão sobre o assunto. Passei a desconfiar da música, como responsável por 90% de todos os meus sentimentos.


Há quem afirme, com dados estatísticos, que a música age como uma espécie de agente social, divisor de classes. Há quem diga que pobre ouve esse estilo e rico ouve aquele outro. Mas eu gosto de pensar que a notas musicas, as frequências, as vibrações, pouco se importam com fatores sociais. Acho que ela dispara igualmente em todas as almas. Algumas encontradas feridas, outras em êxtase, outras em total desengano, outras apenas esperando o tempo passar. Mas todas, absolutamente todas, são atingidas. Quem diz não sentir nada quando escuta uma música feita com a alma, mente. Quem diz não se emocionar com determinadas performances e épicos musicais, não sabe o que está dizendo ou simplesmente não se conhece o suficiente para perceber a nudez de sua própria alma.


E como explicar que a mesma música, possa causar em várias pessoas, sensações completamente diferentes? Umas ficam tristes, outras se alegram. Umas sentem vontade de ficar só e outras simplesmente querem desaparecer. A resposta não poderia ser diferente. O poder transcendental da música carrega todos os sentimentos juntos se não na letra, nas notas, nas frequências e vibrações que conversam com o nosso subconsciente. É importante saber disso. É importante saber que a arte existe para que nós possamos ter experiências com ela. E a música, como uma das mais importantes artes, não teria sentido de existir se não conseguisse se relacionar com todos os seus ouvintes.


Esperar que a nossa alma não reconheça o poder natural da música, é subestimar a grandeza do universo em que vivemos.


E, parafraseando a genialidade de Nietzsche, a vida sem música seria um erro.

Erick Freire.

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