9.5.14

Por que eu me 'desconectei'?



Muitas pessoas estão me perguntando porque eu me 'desconectei', ou melhor, porque eu abandonei todo tipo de relacionamento que não seja 'real', que não gere olhares sinceros, abraços apertados, beijos carinhosos e calor humano. O motivo pelo qual, me 'desconectei' das redes sociais e de tudo que me lembre do quão distante estou de você que, ao invés de ouvir o que estou dizendo, está lendo o que escrevi, foi esta resenha de Giseli Betsy essencialmente baseada nas declarações de Zygmunt Bauman. Quando li isso, com minha cara no pó e juntando meus cacos pelo chão, fui compelido a cancelar sumariamente minha conta no Facebook. Reconheci instantaneamente meu imenso desamor e minha quase total falta de amigos (mesmo com mais de 500 na rede social).

Lá vai:

Não me delete, por favor.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman declara que vivemos em um tempo que escorre pelas mãos, um tempo líquido em que nada é para persistir. Não há nada tão intenso que consiga permanecer e se tornar verdadeiramente necessário. Tudo é transitório. Não há a observação pausada daquilo que experimentamos, é preciso fotografar, filmar, comentar, curtir, mostrar, comprar e comparar.

O desejo habita a ansiedade e se perde no consumismo imediato. A sociedade está marcada pela ansiedade, reina uma inabilidade de experimentar profundamente o que nos chega, o que importa é poder descrever aos demais o que se está fazendo.
Em tempos de Facebook e Twitter não há desagrados, se não gosto de uma declaração ou um pensamento, deleto, desconecto, bloqueio. Perde-se a profundidade das relações; perde-se a conversa que possibilita a harmonia e também o destoar. Nas relações virtuais não existem discussões que terminem em abraços vivos, as discussões são mudas, distantes. As relações começam ou terminam sem contato algum. Analisamos o outro por suas fotos e frases de efeito. Não existe a troca vivida.
Ao mesmo tempo em que experimentamos um isolamento protetor, vivenciamos uma absoluta exposição. Não há o privado, tudo é desvendado: o que se come, o que se compra; o que nos atormenta e o que nos alegra.

O amor é mais falado do que vivido. Vivemos um tempo de secreta angustia. Filosoficamente a angustia é o sentimento do nada. O corpo se inquieta e a alma sufoca. Há uma vertigem permeando as relações, tudo se torna vacilante, tudo pode ser deletado: o amor e os amigos.


- Giseli Betsy

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