10.11.16

29 de 78 – Um ensaio sobre anos, aniversário e 'talvez'





Uma vida inteira investida em significar. Nascemos assim, buscamos assim, crescemos assim e morremos por isso. Uma vida inteira buscando significar a vida. Talvez o objetivo da vida seja morrer tentando achar seu significado. Talvez o objetivo de uma boa vida, seja morrer sem encontrá-lo. Talvez a plenitude da vida seja viver pelo que ela significa. E pra mim a vida significa morrer. E mais uma vez: nascemos assim, buscamos assim, crescemos assim e assim vamos morrendo.

Quando achamos que sabemos de algo, descobrimos que não se trata do que sabemos, mas do que somos. Eu sei que sou sabido, mas não sou sabido do meu ser. Talvez encontre em certezas, salvação. Talvez encontre em tantas certezas, morte. Acima de tudo, tenho fé que um dia os anos me tirem a habilidade de escrever ‘talvez’ tantas vezes.
Fé é esperar na estação pelo trem que não passa com a certeza de que um dia ele chegará. Sem talvez. Ele apenas chegará!


De uns dias pra cá tenho caminhado bastante, se em carne não sei, Deus o sabe. Acontece que de nada adianta levar nas costas os anos de ‘talvez’ nessa caminhada. Talvez não diga mais talvez.


Esse ano foi duro, mas como dizem “Grandes mudanças são antecedidas pelo caos.” Seja como for, eu amadureci muito do ponto de vista intelectual, moral e emocional nesse espaço de tempo que me foi concedido por Deus para “agir e fruir” como dizia Freud. Sinto-me mais sereno. Ás vezes, a gente leva mais tempo do que pretendíamos para colocar a cabeça no lugar, definir um projeto de vida e lutar para realizá-lo. Mas quando finalmente estamos prontos, sentimos em nosso ser uma confiança renovadora. Queridos, nessa vida podemos ser o que quisermos e devemos escolher ser o melhor que pudermos. Podemos fazer o que quisermos e devemos escolher fazer aquilo que amamos e nos faz feliz. Podemos ficar com quem quisermos e devemos escolher ficar com quem faz nosso coração correr como um campeão olímpico.


Também chega um tempo na vida de um homem em que ele já viu relativamente tudo e agora pode selecionar o que é melhor aos seus olhos, aquilo que toca o mais primordial do seu ser. E a vida torna-se mais limpa, mais enxuta e mais palpável. Aperfeiçoei audaciosamente a fórmula do Freud para essa versão: “agir e amar”. A bíblia me deu, por outro lado, “amar e agir”. Amar no sentido mais profundo, ético e cristão. Amar e respeitar, amar e perdoar, amar e pacificar. Se agir primeiro do que amar ou vice-versa, não sei. Depende do que o momento pedir, depende do que o próximo pedir, depende do que os anos terão me ensinado.


Em suma, estou mais velho, é verdade, mais também estou mais maduro, mais forte e mais saboroso como um bom vinho. E mais amável. Como dizia o Russo, de Brasília: “Aprendi a perdoar e a pedir perdão”.


Talvez velas se acendam hoje, coros cantem “Parabéns pra você” e a pessoas me peçam para assoprar a vela e fazer um pedido. Eu porém vos digo: que se acenda, no interior de cada um de vocês, a LUZ. Não de vela, mas de Graça! Não uma que possa ser apagada pelo meu sopro, uma porém que possa me salvar de minhas escuridões quando eu precisar.


Enfim os anos não podem mentir. Já vivi 29 de 78.


Que nos próximos 49, haja lucidez. Lucidez para enxergar os presentes que recebemos e poucas vezes enxergamos. Lucidez para valorizar o que nos pertence de fato. Lucidez para aceitar o fim de um tempo e o começo de outro, diferente, mas nem por isso pior. Lucidez para acolher o que é verdadeiro, real e provido de sentido.
Lucidez para amar e ser amado. Lucidez para finalmente permitir que o amor nos salve da vida.


Sobre o sentido da vida, sem talvez, apenas uma certeza: é pra frente!



Erick Freire.

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